
SÃO LUIZ RESISTE
O cinema
Quem passa pela Rua da Aurora, na mediação com o cruzamento com a Av. Conde da Boa Vista consegue ver na esquina com as duas ruas, um edifício moderno que comporta um templo cinematográfico que poucos conhecem. O cinema São Luiz, que define a base do prédio Duarte Coelho, próximo a ponte de mesmo nome. No coração da cidade, o cinema perdura ao tempo e inovações da indústria audiovisual e torna-se um símbolo de resistência na luta por memórias e cultura.
Inaugurado em 6 de setembro de 1952, em meio a grandes mudanças no âmbito cinematográfico mundial, o local traz consigo uma carga histórica importante quanto a construção de uma narrativa do cinema. Junto a outros cinemas de rua - como os cinemas Veneza, Moderno e Trianon - fizeram parte de um cenário culturalmente rico na segunda metade do século XX, trazendo diversão e cultura. Traz consigo memórias e experiências ímpares de grande parte da população recifense. Foi palco para estreia de filmes clássicos como "Alien: O oitavo passageiro", "Cobra" estrelando Silvester Stallone, "Titanic", entre outros.
Com seu nome dado em homenagem ao antigo rei da França
Luis IX, o cinema foi construído no local onde uma antiga igreja
protestante residia, e foi entregue a população da cidade em 1952 sob a coordenação de Luiz Severiano Ribeiro. Seu interior, ornado com os mais belos detalhes imperiais, poltronas de madeiras estofadas e dois vitrais, ainda em funcionamento da artista pernambucana Aurora de Lima. Mais tarde, receberia um mural pintado por outro artista pernambucano: Lula Cardoso Ayres. Sua estética lembra os grande palácios (como assim eram chamados os cinemas) do século 20, quando foram construídos grandes salas de cinemas para comportar o grande público da época. Hoje, destaca-se por sua autenticidade e singularidade em comparação as outras salas do país.
No final do século IXX e início do XX, o fenômeno cinema surge com uma proposta de atração para o público geral. Se era consumido o filme em parques temáticos e eventos temporarios por apenas alguns nickels (moeda). E trazendo a proposta de um cinema popular, como era consumido no começo do século passado, o local revive essa época e possibilitada a democratização do acesso aos filmes. Juntamente com o Cinema São Luiz e o Cine Odeon, também sob a direção de Severiano, o São Luiz compõe um dos poucos cinemas de ruas restantes no país. Depois do boom dos shopping centers e o sistema de distribuição hollywoodiano, os multiplex ganharam força no mercado. Até os dias atuais, o cinema resiste a essas mudanças marcantes na industria cinematográfica.
Desde sua inauguração, o cinema vem se adaptando e sofrendo transformações. Recebeu climatização, sonorização, material para as poltronas da mesma qualidade que se encontra nas de aviões. Em 2015, foi instalado o projetor digital, possibilitando também a projeção de filmes 3D e o sistema de som Dolby 7.1 com mais de cinco canais sonoros. Fechou, dentre muitas vezes, em dezembro de 2017, justo pela danificação da placa mãe do projetor, reabrindo em maio de 2018 com a estreia nacional do filme "O Processo" para a alegria de muitos recifenses.
Diferente dos multiplex, os cinemas de rua surgiram como forma de entretenimento anos atrás com uma proposta mais popular. Em contrapartida também, exibem hoje mais filmes fora do circuito comercial dos grandes shoppings centers do país e tem sua arquitetura e identidade própria .
O edifício
Também conhecido como edifício Fidalgo, o majestoso prédio Duarte Coelho, foi um marco da modernidade pela qual o Recife passava naquele início de década.
Projetado pelo arquiteto pernambucano Americo Rodrigues Campello, o edifício, construído em 1952, ficou no lugar da antiga Igreja Anglicana “Holly Trinity Church”, conhecida como a Igrejinha dos Ingleses.

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Dividido em três blocos (A, B e C), onde o bloco “A” tem seu primeiro andar destinado ao Cinema São luiz e o restante residencial, o bloco “B” dividido entre comércio e residência, e o bloco “C” designado apenas à salas comerciais; o Edifício Fidalgo passa por vários problemas estruturais hoje em dia. “Inadimplência, salas abandonadas, estrutura antiga, infiltração, depredações, elevadores antigos...”, conta Nathália Saints, moradora e dona de um restaurante no prédio.
Em seis décadas, a dinâmica do espaço ao redor da construção e as referências afetivas dos recifenses, mudaram bastante. Se antes o edifício e o cinema eram vangloriados pelos recifenses e as lojas aos pés do prédio eram lojas de grife e boates de luxo, hoje, as pessoas mal olham para o monumento e o comércio tomou conta do térreo, com uma lotérica, uma loja de surfwear, além de lanchonetes e um chaveiro.

O projeto que visava três blocos de 13 andares e um grandioso cinema, continha 36 páginas, pertencia à Imobiliária Recife Ltda. e foi executado pela construtora carioca B. Dutra & Cia. Ltda.
Características do projeto – Condições preliminares e materiais de construção:
“Localização: O edifício será construído no terreno com frente para as ruas da Aurora, Conde da Boa Vista e da União, no ponto onde desemboca a Ponte Duarte Coelho, na continuação da moderna Avenida 10 de Novembro.
Características do edifício: O edifício será um grande bloco arquitetônico de 14 pavimentos. Haverá um grande cinema e lojas no 1.º pavimento (térreo). O cinema será moderníssimo e apresentará os melhores requisitos da mais adiantada técnica. Haverá nos andares superiores 2 conjuntos de apartamentos e 1 conjunto de escritórios, conforme as indicações das plantas. Cada conjunto terá entrada e elevadores separados.
Licenças e seguros: Correrão por conta do Empreiteiro.”
(Via: https://oedificiofidalgo.wordpress.com)
É notório a ambição de Américo Campello pela perfeição da construção. Todas as minúcias do edifício eram mostradas de modo a seduzir e ganhar a confiança dos futuros moradores.




A modernidade levou os recifenses aos espaços privados, enfatizando e priorizando os novos cinemas de shopping. Ressignificar os monumentos históricos que possuímos à nossa volta, que interagimos, de alguma forma, todos os dias, é muito importante. Não podemos deixar nossa história morrer.
a resistência
O São Luiz resiste até hoje. Após ter seu projetor com defeito, o Cinema São Luiz fechou as portas, temporariamente, no dia 13 de dezembro de 2017 (falaram no parágrafo anterior). O problema foi na placa ICP do projetor digital. Geraldo Pinho, programador do cinema, disse na época que sem a placa, o projetor não funcionava, impossibilitando o filme rodar. Porém, antes disso, ocorreu a 10º edição do Janela Internacional de Cinema do Recife, entre os dias 3 e 12 de novembro, e depois, dias antes do defeito na placa, aconteceu a 9ª edição do Festival de Curtas de Pernambuco (FestCine), durante os dias 4 e 9 de dezembro. Ambos os festivais ocorreram com placas alugadas.
A Reabertura
Depois de 5 meses fechado, o Cinema São Luiz reabriu, no dia 10 de maio de 2018, com a pré-estreia do filme “O Processo”. Dirigido por Maria Augusta Ramos, o documentário fala sobre o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. O filme conquistou o prêmio de “Melhor longa-metragem” no Festival Internacional de Documentários da Suíça. Além da exibição do filme, a reabertura ainda contou com um debate com a diretora, mediado pelo crítico Luiz Joaquim.
O clima era de entusiasmo e emoção. A fila de entrada dava voltas no quarteirão. A mistura de pessoas mostrava a diversidade do público do cinema. Jovens, velhos, pessoas contra o impeachment, pessoas à favor, todos juntos, em um só lugar, com um forte fato em comum: o amor pelo Cinema São Luiz. A reabertura foi palco para grandes discussões sobre o tema do filme, mas também, de depoimentos emocionantes sobre a importância do cinema para as pessoas. Confira: